sexta-feira, 23 de junho de 2017

Arquivo Extra: A Primeira Guerra de Mulher Maravilha (pode conter spoilers)



"A guerra para acabar com as guerras" esta foi a frase de Steve Trevor para Diana ao tentar localizar Diana na terra do patriarcado e é assim que eu inicio e digo bem vindo para vocês amigos. Tinham duvidas que eu iria falar da Mulher Maravilha? Como não falar, né? Todo mundo sabe que ela foi criada por Marston para ser um simbolo de amor e verdade nos anos 40, um momento que o mundo via o horror da Segunda Guerra Mundial e a proposta foi ser uma mensagem de esperança e bem ousada, eu diria. A base da personagem foi ser o oposto da guerra e 76 anos depois a Mulher Maravilha enche a tela do cinema pulando com seu escudo de janelas na Primeira Guerra Mundial! Não, pera... Primeira Guerra? Isso mesmo Primeira Guerra!

Neste momento eu vibrei!O deslocamento temporal do Filme me fez saltar de alegria, mas para muitos acredito que foi um: "Hum, que legal". É engraçado que todo mundo acha um máximo a Segunda Guerra Mundial e "sabe quase tudo" sobre ela (a primeira pergunta todo ano é: Profe quando vamos aprender sobre a guerra mundial? e não estão falando da primeira eu tenho certeza). Tudo que falam é sobre as armas, os campos de concentração, a guerra relâmpago, o nazismo, Hitler. Mas poucas pessoas lembram das aulas de Primeira Guerra Mundial, ou nem sequer sabem quem lutou nela. Eu acredito que a ausência de uma boa filmografia (não no sentido de qualidade, mas de quantidade) seja a causa do esquecimento. Podemos contar nos dedos os filmes que trazem um bom conteúdo sobre ela: os excelentes Sem Novidade no Front e Johnny vai a guerra (baseados em livros e roteirizados pelos próprios autores), Glória feita de Sangue, o regular Adeus às armas (também baseado no livro do autor Hemingway) e os mais recentes Flyboys, Barão Vermelho, Feliz Natal, Cavalo de Guerra e a ótima série Passing Bells (disponível na Netflix) e alguns outros. Já se pegarmos a listinha da Segunda Guerra (vai longe) não tem nem comparação as algumas linhas que coloquei aqui.

As pessoas não conhecem bem a Primeira Guerra e ela é subestimada. Na verdade a Grande Guerra (como deveria ser chamada, pois era assim que foi conhecida) é na verdade muito mais impactante que a Segunda Guerra. E você me pergunta: Como assim? Você não pode dizer isso! Quero que antes de me julgar pense nas seguintes sentenças:
1) Guerra tecnológica e luta pelo progresso
2) Idealismo quase religioso
3) Guerra limpa
4) Guerra defensiva
5) Máquinas contra Máquinas
6) Aventura

Pronto: você tem todas as informações para entender a Grande Guerra, ou pelo menos o que levou os homens até ela. Para eles era o fim da Guerra entre homens e agora era armas contra armas. A tecnologia tinha crescido tanto que a guerra serviu de teste para novas máquinas: avião foi inaugurado com uma máquina de guerra, sem falar em tanques, armas automáticas, metralhadoras com sistema de refrigeração, os já conhecidos canhões, rifles e as baionetas, granadas de implosão e explosão, minas, lança chamas, gases. A guerra era cada vez mais mecânica e cientifica.: era o resultado do progresso. Inocentemente contagiados pelo ritmo acelerado da tecnologia e do avanço da ciência, os jovens se dispuseram a pegar em armas e lutar entre si, como uma extensão do armamento criado, a possibilidade de se aventurar uma vez mais antes da vida real acontecer, uma vida pré determinada e confortável da burguesia. O motivo? disputas comerciais e uma sede de testar seu poder bélico.

Clima perfeito para introduzir nossa personagem: Diana uma guerreira que nunca guerreou e que acredita na existência do bem e do mal em formas que são distintas e que não coabitam. O que nos leva a pensar:

1) A Mulher maravilha combina com o clima da Primeira Guerra Mundial?

Uma das primeiras preocupações é que um deslocamento temporal é prejudicial para as origens. A criação tem muito sobre o seu tempo, e se faz com um propósito. Durante a segunda guerra ela era o amor que faltava. Pensa comigo: Campos de concentração, extermino, destruição, ideias de raça pura. Faltava amor pelo outro: só havia violência e ódio.

Mas e na Primeira Guerra?

Bom, como é um filme de origem a Diana que escolheram é pura inocência e idealismo. Estas são as palavras chaves para entender as motivações da personagem: a Diana acreditava que o mal que estava no mundo poderia ser derrotado. Ele era personificado e não era uma motivação de todas as pessoas. Elas era uma guerreira nunca tinha guerreado e que acreditava existência encarnada do BEM e do MAL, e o MAL era Ares e seus agentes e a guerra seria finda quando eles fossem derrotados e aos poucos ela percebe que sua luta era motivada por uma fé cega em lado do BEM e lado do MAL, dois eram sim lados lutando por seus ideias e que eles eram o motor para o MAL, pelo menos até que um vença. Um lugar que as armas não substituíram as pessoas, elas continuam morrendo, sendo mutiladas, passam fome... Vocês perceberam o quanto o soldados lutaram contra as máquinas ou inovações tecnológicas? Os soldados opostos tinham sempre algo que os marcavam como mecanizados. O inimigo ali nunca foi o alemão ou o turco e sim as armas e a ciência?

Aos poucos Diana enxerga que o mal n]ao era exatamente o que ela imaginava e sim a motivação para os próprios interesses: os alemães não queriam mais lutar e os ingleses também não. A guerra já parecia não levar para lugar nenhum.

O Grande Plano nunca foi os movimentos humanos que deveriam ser impedidos e sim uma arma de toxinas manipuladas pela ciência.

A luta da Mulher Maravilha deixou de ser contra o mal encarnado para ser pela esperança que ainda existia da redenção que é motivada pelo amor. Sim, a Mulher Maravilha funcionou muito bem na Primeira Guerra: uma guerra que inicia pelo idealismo e termina quando ee acaba e só sobra a esperança de tudo melhorar, reconstruir e voltar a viver.

2) O filme retratou bem a guerra?
Aqui é a parte que eu posso ser um pouco chata... mas calma, vou apontar falhas? sim, é claro... Mas vou falar de acertos (pois ele acertou muito em cheio em alguns aspectos)

A) Faltou destruição:
Este filme tomou muito cuidado ao tratar de destruição, o que foi compreensível na minha opinião, mas que infelizmente a tornou um pouco imprecisa. Não que isso seja um furo gigantesco ou atrapalhe a experiência do filme... muito pelo contrário. Eu só me preocupo como isso pode atrapalhar um pouco na compreensão da guerra em si. Uma coisa importante para enfatizar é: A Guerra destruiu quase tudo ao entorno das trincheiras e isso fez com que a Europa tivesse que começar quase do zero a se reconstruir (o que levou a organização da Luga das Nações e a vários acordos no Tratado de Versalhes - inclusive com incentivo fiscal dos EUA que futuramente causaria o colapso da Bolsa de Valores americana e a Crise de 29) especialmente na Bélgica (onde há indícios que as cenas da guerra se passaram no segundo ato do filme) e França. O vilarejo que os acolhe deveria estar bem mais destruído pelos impactos dos canhões. (ouça o podcast do Bolsa Nerd em que discutimos isso indicado no final deste artigo)

B) Faltou um pouco de estudo sobre os armamentos da Grande Guerra:
Logo na invasão da Ilha, vemos os soldados surgindo na praia com rifles em mãos e sem BAIONETAS! Meu primeiro pensamento foi: "Como assim? Sem baionetas? "  Faltou sim um pouco de estudo sobre as armas da guerra.







Acredito que isso de deve também a confusão entre a Primeira e Segunda guerra. Muitas armas permaneceram e tenham quase as mesmas características. Os rifles ficaram apenas mais sofisticados e semi-automáticos na segunda guerra. As armas retratadas são mais próximas a concepção da segunda guerra: aconteceu com a explosão das granadas, a falta de bombardeios mas intensos antes ataques (uso de canhões), ausência da cavalaria e nas trincheiras ausência de elementos como armes farpados e metralhadoras com refrigeração a água. O tanque também deveria ter uma outra configuração, já que o retratado é da Segunda Guerra. Houve confusão!



C) VESTIMENTAS: calma, nem tudo é reclamação, tá? Quero muito que este filme leve o oscar de melhor figurino! Sério! Foi Excelente. Se preocupou com cada uniforme, colocar referencias da série sem ferir a estética de costura da Belle Époque, achei sensacional. Sem mais... mandemos o próximo

D) LOCALIDADES: Aqui o meus parabéns. Foi muito bem alocada as batalhas. A trincheira, a terra de ninguém foi bem retratada. Temos os turcos aparecendo no primeiro ato, o que me deixou bastante surpresa ( tirando o chapéu aqui para eles), temos a Bélgica aparecendo, que é na minha opinião um dos piores lugares para se estar.Enfim... Palmas!

E) APRESENTAÇÃO DA GUERRA NOS DIÁLOGOS: Aqui está outra excelência. Sem piadas piegas, tudo foi fluido e bem explicado sem precisar de discursos gigantescos, apenas com frases de impacto que são muito mais eficientes que qualquer monologo que fosse colocado. Fora cenas que apresentam o cenário da guerra para você.

as críticas que tenho são coisas que não tiram a experiência da guerra, ou seja, foi uma representação muito boa, porém não perfeita... mas quem liga, não é mesmo? 

3) Discursos:

Li um texto estes dias falando sobre o que o filme perdeu foi uma boa oportunidade para falar do movimento sufragista que começou um pouco antes da guerra, no final do século XIX. Eu devo discordar da opinião do meu caro colega historiador, pois não vejo uma oportunidade perdida e sim um entendimento do seu público por parte dos produtores. Falar do movimento sufragista seria um pouco demais quando uma sessão de cinema ofertada somente para mulheres foi friamente criticada. 

O discurso feminista foi tão fluido e significativo que não precisou ser marcado e insistente, foi leve e delicado. Está muito mais reflexivo do que declarado: quando a inteligência da Diana é subestimada, quando ela questiona os valores sociais presentes, quando invade uma reunião política e não entende porque uma mulher não pode participar, quando luta na trincheira. Não h´´a menina que não se sinta inspirada pelas cenas! Contagiada pela força da Diana! Eu não senti falta do movimento sufragista, e você? Fora o discurso sobre as minorias, sabe o quanto me fez pensar? Pois é 

Só tenho algo a dizer: Mulher Maravilha você merece sucesso

http://www.terrazero.com.br/2017/06/bolsa-nerd-05-mulher-maravilha-sem-spoilers/