domingo, 7 de maio de 2017

Arquivo extra: 13 porquês para assistir 13 reasons why (como professor) [contém spoilers]

Bom, primeiro e antes de tudo devo dizer que não estou aqui dizendo que amei a série. Achei ela um pouco lenta e não consegui assistir uma segunda vez o meio dela. Funcionou melhor quando assisti a primeira vez ( fui rever com minha cunhada que estava assistindo). A série não vai ser um clássico e a linguagem dela não é voltada para todos os públicos. Eu como espectadora achei legal até, mas não é uma série que vou acompanhar se houver uma segunda temporada (quando anunciaram eu realmente não me empolguei), não sofri com o termino dela (eu devo aqui dizer isso: adeus Bones, sentirei saudades).



Para dizer a verdade não sofri com a Hannah (tirando o estupro, é claro) e sofri sim com o pobre do Clay que esperou um bom tanto para saber porque recebeu as ditas das fitas (e eu senti muita raiva porque me foi previsível, mas as pressões alheias me fizeram duvidar do meu julgamento, valeu aí amiga!*) e o personagem que me deixou realmente com pena foi a do Justin (se assistir sofra comigo por ele). 13 reasons why é uma série adolescentes e não espere mais do que isso. Mas...
Ela é importante!
Aí você me pergunta: mas você acabou de dizer que não gostou tanto assim, por  que tá me dizendo que ela é importante?


Vou tentar aqui fazer como a série fez
13 razões para professores assistirem 13 reasons why:

1) Hannah Baker pode ser sua aluna: por mais banais que sejam as razões de Hannah e por mais que ache que ela estava errada ao se matar (tirando a parte do estupro) os problemas dela eram reais para ela, assim como os problemas dos adolescentes para nós são banais e reais para eles. Hannah é uma adolescente com problemas de auto estima, poucos amigos e recém chegada na escola. A menina nem tinha chegando e já acabou difamada pelos colegas. Dar atenção a alunos recém chegados em fase de adaptação é uma tarefa nossa, e sim eles precisam de nossa ajuda. Eles sofrerem com a adaptação, existe resistência a eles e dependendo da postura que tomam podem acabar provocando brigas, sendo difamados por colegas mais populares. Eles merecem nossa atenção.

2) A série nos mostra que o problema pode começar nas redes sociais dos alunos: uma das primeiras formas de difamação que Hannah foi vítima foi as redes sociais. Uma foto indecente circulou entre os alunos e foi um passo para começar os problemas da menina.  Muitas vezes eu me vi pensando se deveria mesmo adicionar meus alunos em minhas redes sociais, vamos combinar que eles abusam deste contato e às vezes são bem inconvenientes, mas é bom dar uma colher de chá e deixar eles participarem na sua rede social. Não estou dizendo para vigiar eles, pois este nem é nosso serviço. Mas eles se expressam muito por ela e muita coisa pode ser evitada. Se você por acaso ver algo estranho em publicações pode contar com ele, pode evitar o cyberbullying de acontecer e criar melhor os laços de companheirismo com seus alunos (estreitar laços é sempre bom). Fique atento ao seus alunos quando puder.

3) Tudo começou com uma lista que circulou na escola: se não quer acompanhar as redes sociais, tudo bem, mas isso eu achei um absurdo. Como nenhum professor não se atentou para esta lista! Aí você vai dizer que foi feita entre​ os alunos e ninguém ficou sabendo. Eu digo que devido a minha experiência uma coisa assim não é tão fácil de esconder. Todos os alunos sabiam, tomavam atitudes idiotas dentro da escola com as meninas e a lista passou pela sala de aula. Qualquer professor que se importa realmente com seus alunos não deixaria de perceber comportamentos estranhos e não deixaria as meninas serem assediadas. Não sejamos insensíveis, nosso trabalho é por um futuro melhor, especialmente um futuro onde a mulher não é um objeto ou um pedaço de carne.

4) Hannah tinha fama, por isso ninguém se importou em mudar de ideia: nenhuma mulher deve ser tratada como objeto, nem mesmo a que se porta de uma forma a reforçar esta ideia. Hannah nem mesmo deu motivo para ter a fama que teve, ela fez o que qualquer garota na idade dela já fez um dia: desejou um garoto, ficou com ele e infelizmente ele não foi legal com ela e se gabou para os demais. Mesmo que Hannah tivesse uma vida sexual ativa (que aparentemente não era o caso) não nos dá no direito de tratar ela de uma forma baixa como foi tratada. E ninguém alertou como uma mulher deve ser tratada, ou mesmo impediu que os meninos a tocassem ou mesmo impedissem o assédio. Deve partir de nós professores esta orientação, não tem haver com ser feminista ou qualquer coisa do tipo... Tem haver com respeito, adolescentes normalmente não tem noção das consequências dos seus atos. Nós devemos orientar e impedir muitas vezes.


5) a série trabalhou com perseguição: uma das razões mostrou que um dos jovens era stalker (perseguidor) e isso é um distúrbio de personalidade que precisa ser identificado e tratado. É importante perceber se o isolamento de certos alunos não pode ser problema como este. É bom estar atento aos sinais.  Inclusive este personagem foi um dos que mais me assustou a atitude, ele vai só era isolado socialmente, ele tinha parecia realmente perturbado em muitas partes da série.

6) ser popular na escola não significa que está tudo bem com o adolescente: muitas vezes julgamos que populares são os mais bem resolvidos. E não é bem assim, a série mostra bem isso. Um dos personagens era um atleta promissor e bem afeiçoado que todos gostavam. O cara que sempre andava em grupo na verdade era solitário, triste e sobrecarregado com a pressão de ser legal o tempo todo e superar as expectativas da sua mãe. Ele era na minha opinião um aluno depressivo que também precisava de ajuda e ele deu sinais disso em alguns momentos.

7) ser popular na escola não significa que está tudo bem (parte 2): este é bem mais complicado. Uma atitude rebelde é um pedido de socorro muitas vezes. Justin tinha um baita problema familiar que ninguém pareceu dar atenção ( eu tentei não dar spoiler, mas com esta história fica difícil) sem atenção devida em casa ou na escola este aluno simplesmente procurou sustento para a sua miséria em seus amigos e todos nós sabemos que o exemplo deve vir de dentro de casa, se isso não acontece pelo menos deveria da escola. Justin não tinha padrão de conduta em casa e muito menos na escola, ele é o famoso aluno problema.


8) não adianta fazer campanha quando uma tragédia já aconteceu: um dos reis da escola neste caso foi deixar para discutir o tema depressão e suicídio quando a morte já havia acontecido. Eu como professora gasto um tempo para dar atenção aos meus alunos. Eles precisam muitas vezes de alguém para conversar sobre isso. Campanhas anti bullying, setembro amarelo são coisas que devem acontecer nas escolas.

9) Hannah deu indício que estava depressiva: qualquer recado, qualquer comportamento fora do comum deve nos deixar atentos. Não custa um sorriso ou uma pergunta sincera de: "tá tudo bem?" Vai ajudar um aluno a se abrir. Hannah​ deixou um bilhete em uma aula, um poema no jornal da escola e andava solitária pela escola. Conheça um pouco seu aluno, não te custa muito!

10) não é só suicídio o problema nas escolas: uma das alunas escondia sua sexualidade, outra aluna cometia mutilação, um aluno estava sempre doente quando na verdade não era bem uma doença que ele tinha, vários sofriam de depressão, alunos eram abusados em casa, um aluno foi praticamente abandonado pela família, havia abuso de drogas e bebidas. Preconceito, sexismo, jogo de influência, favoritismo... Tudo deve ser trabalhado para não acontecer em uma escola.

11) A presença dos pais na escola: é notável a ausência de um dialogo entre a escola e os pais. Hannah enfrentava seus problemas em grande parte calada dos pais e dentro da escola. A mãe do Clay não fazia ideia de como o filho estava indo na escola. Ambos os pais aparentemente eram presentes na vida dos filhos em casa. Mostra a importância de se levar os problemas dos alunos a conhecimento dos pais. Talvez assim o destino de Hannah seria diferente. Claro que os pais deveriam prestar mais atenção a sua filha, mas a série mostra que os pais não se atentaram pois estavam com preocupados com seus próprios problemas. Acho que a escola deve fazer a sua parte e tentar informar os pais.


12) denuncia o sexismo: eu tinha que mencionar isso. Bryce não viu problemas em tocar em Hannah, afinal ela não disse não para ele. Uma coisa que todos os homens devem entender é que : só é sim quando a menina diz que sim. Se ela diz não ou mesmo não diz nada o homem não deve relar a mão nela. Isso é sério e bem triste na nossa sociedade de hoje. Bryce foi criado em uma cultura permissiva, onde teve tudo que queria. A ausência dos pais e o favoritismo na escola não ensinaram nada a ele, só que ele podia ter tudo que queria... Será que não estamos cultivando ou reforçando isso?

13) Hannah procurou um professor, mas não julgou seu problema importante: o último porquê era um professor. E isso, para mim, é o mais triste da série. O professor tomou o caminho mais fácil em fazer seus pré julgamentos, e não se atentou a ouvir de verdade os problemas dela. Ao pensar sobre o trabalho que eu tenho, eu cheguei a conclusão que não sou só uma fonte que transmite conhecimentos, eu sou também para a vida deles um modelo dos muitos que eles terão. Eu posso ser aquela que uma Hannah pode pedir ajuda quando não tem mais para onde correr, já ela mesmo não sabe o que fazer ou em quem se amparar. Devemos ser sensíveis para ouvir antes de julgar compreender e amparar, pensar antes de falar, refletir sobre os problemas alheios antes de entregar uma solução ou fazer uma colocação. É uma linha fina que pode salvar uma vida. 

A série faz você refletir sobre como faria diferente, no que devemos mudar como pessoas que são responsáveis por dezenas de Hannahs, Jutins, Bryces... Será que temos sido sensíveis? A série tem um apelo grandíssimo com nossos adolescentes que se identificam com seus personagens, a questão é: vamos nos identificar também? 

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*é você sim Tammy!



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