sábado, 25 de fevereiro de 2017

Entre parênteses: como parei no Bolsa Nerd

Como este é um blog que quero muito que seja descontraído, acho que preciso de um espaço para ser mais do que uma profe ou uma geek, mas uma pessoa acessível é que vocês me conheçam. No entre parênteses eu gostaria de colocar um pouco da minha história.

Eu gostaria de falar sobre como acabei no Bolsa Nerd, sou atualmente uma das hosts e vamos entrar na segunda edição.

Bom, é interessante tentar coisas novas e mais ainda é bom assumir os seu gostos excêntricos e descobrir que eles não são nem um pouco estranhos, e sua cabeça mudar totalmente com relação a eles.
Uma coisa é ter seus gostos, outra é assumir e vestir literalmente a camisa, mudar de postura. Na minha cabeça, meu gosto por super heróis e quadrinhos era apenas para estar na minha casa, nos momentos que me eram para descontração e deveria ser apenas meu hobby.
Coisas que devem saber sobre mim: entrei para a faculdade com apenas 18 aninhos e era a mais nova da turma. Eu tinha que me provar como inteligente e madura... Estar a altura do desafio, ser séria, centrada ( o que nunca fui), politizada, feminista, militante (eu já era engajada em movimento estudantil). Uma parte de mim quis dar fim a meu gosto por quadrinhos e heróis (uma propaganda imperialista e não mais americana e sim estado unidense). Tudo isso não era exatamente eu de verdade, mais uma face de que eu criei para ser intelectual, ou melhor pseudo intelectual e hipócrita dá minha parte.
Eu me já estava quase me engajando em políticas quando vieram as Novas linguagens me libertar, e descobri que tudo poderia ser formas de fazer história (ainda bem porque olhando para trás eu me vejo como uma chata - eu tenho pavor a gente chata). Foi a literatura ficcional que me libertou, pois eu sempre quis ser a diferentona, a descolada. Escrevi sobre a Primeira Guerra e o trauma que os soldados sofreram que ficou refletido na literatura. Não havia outra monografia na faculdade sobre isso... Mas ainda não assumi meu gosto por quadrinhos neste momento, eu era mais descolada, mas não menos chata. Eu me formei.
E veio a profissão: a mais nova das professoras, a carinha de menina é mais uma vez o desafio (interno sempre) de me provar competente e séria. Grande bobagem, tá gente! Se está com esta paranóia que eu tinha pare agora! O que te dá competência é a sua aula e não as roupas que usa.
Muito recentemente joguei tudo para o alto, quando tudo estava consolidado na minha vida e eu caí na real, eu sentia falta dos meus quadrinhos, dos meus gostos excêntricos que estavam em muito abandonados. Aí veio minha primeira camiseta de super herói: eu não resisti e comprei uma camiseta do Superman na sessão infantil... Timidamente eu usei em sala, de uma forma mais adulta possível, muitos acessórios e uma sapatilha mais séria. Pronto, eu estava resgatada e não tirou em nenhum momento minha autoridade e sim o respeito de meus alunos e admiração.
Para os meus superiores, o estranhamento no começo e depois mais uma vez admiração. Eu me tornei mais estilosa e os comentários agora estavam em todos os corredores: nossa, como a professora é estilosa, né? (Alunas) Tamiris as alunas não param de falar sobre suas roupas, você é um modelo! (Pedagogas) Eu me aprimorei, minhas roupas se adequaram a minha idade de uma forma geek, minhas estantes foram aumentando com volumes de quadrinhos e minhas aulas passaram a ter mais e mais referências, minhas redes sociais com mais e mais referências nerds.
E... Uma amiga de anos Débora (sua linda) me adiciona em todos os grupos nerds pelo Facebook a fora... Nossas conversas recheadas de nerdices até finalmente a proposta vir: quer participar comigo de um novo projeto? Desconfiada eu disse tudo bem, e hoje é uma parte da minha vida.
Entre parênteses minha vida era chata, sem graça, séria e com a voz reprimida. Hoje é colorida, estilosa, nerd e minha voz está aí para o mundo ouvir!
Escutem o Bolsa Nerd, e ousem como eu! Tentem coisas novas!
Um beijo para todos

domingo, 19 de fevereiro de 2017

E funciona... : O caso Kamala Khan e o Islã

Antes de tudo devo explicar o que "E funciona..." significa para este blog. Como eu me propus desde o começo foi, além de minha inquietude natural para me expressar aqui na rede, que eu estaria disposta a mostrar coisas que funcionaram em minhas aulas... Inserir Cultura Pop é um desafio bem grande, mas pode e deve ser usada. Espero que sirva de ajuda para alguém;

O Caso Kamala Khan:


Posso dizer que Kamala foi uma aposta da Marvel que pode se considerar arriscada ( e que bom que deu certo). A mais jovem Miss Marvel, substituindo Carol Danvers que agora usa o manto de Capitã Marvel, é bem polêmica no seu conceito: não por ser inumana, não pelos seus poderes de regeneração e elasticidade, por ser a protegida de um cão gigante (também inumado ) chamado Dentinho ou mesmo por ser uma fã de super heróis que acabou virando uma deles. Não, Kamala levanta polêmica por ser uma garota americana-paquistanesa e muçulmana. Sim, ela é muçulmana! Isso foi extremamente ousado em uma época em que os Estados Unidos é anti-islâmico e engajado na luta contra os defensores de Maomé. Mas Kamala Khan está aí graças a iniciativa de uma de suas criadoras Sana Amanat que levou este projeto adiante mesmo em um mundo aonde a intolerância às vezes habita.

Mas não estou aqui para somente elogiar ousadias, estou aqui para usar como um recurso em sala de aula.

Não sei vocês, mas quando preciso falar de Islã sempre é muito difícil. Primeiro que vivemos em uma cultura em que a generalização é sempre presente e difundida. Se a mídia fala que os muçulmanos são terroristas, a verdade que habita em meus alunos é: Muçulmano é terrorista e pronto! Isso na cabeça deles resume o que eles precisam saber sobre esta outra religião e se sentem satisfeitos com isso. Sempre existe uma resistência preconceituosa quando eu começo a introduzir este assunto. De uma certa forma vivemos num mundo ocidental que nem faz questão de entender esta religião que hoje é a segunda maior do mundo, para nós basta a generalização.

Mas... sou professora e generalização não é uma prática de deve existir entre os professores: vamos atrás de materiais, procuramos contextualizar e desmistificar estes conceitos pré existentes em nossos alunos. Aí que Kamala é um recurso perfeito para isso: ela é muçulmana e super-heroína!
Vamos lá:

Eu tenho a revista encadernada "Questões Mil" e segundo minhas pesquisas ela está atualmente em promoção: você vai desembolsar entre 18 a 27 reais caso queira adquirir .



Eu levei para a sala e mostrei aos alunos minha revista, o efeito de mostrar a a eles é sempre positivo... graças ao sucesso dos heróis da Marvel no cinema, eles já se identificam muito com os heróis apesar do pouco contato com as Histórias em Quadrinhos em si, as HQ's são um máximo para eles, por mais que não leiam. Pergunto a eles se já viram algo sobre a Miss Marvel... a resposta normalmente é que nunca ouviram falar, mas que acharam legal e querem ver: Digo a eles que ela é uma adolescente que ganhou super poderes e que ela é diferente de todos os outros heróis. Ela é muçulmana... E assim posso dizer ao meus alunos que nem todo muçulmano é terrorista e mostro para eles várias partes que Kamala mostra sua fé.

Funcionou? Sim, coloquei em slides alguns trechos que mostra ela na mesquita para ilustrar e deixei os alunos folharem por algumas aulas a revista, pois eles necessitam deste contato.

A ideia aqui é apresentar ela como heroína primeiro e aguçar a curiosidade dos alunos, depois introduzir a religiosidade da personagem e a ousadia de sua criadora.., inclusive debater sobre o anti-islamismo que existe nos Estados Unidos e no mundo ocidental... Seja criativo!

Outra dica: existe um episódio em uma série chamada BONES (está disponível na Netflix) em que tem um discurso muito bonito para ser passado em sala de aula sobre um muçulmano sobre o 11 de setembro: não foi sua religião que matou aquela gente e sim o ódio.
O nome do episódio é Um Patriota no Purgatório (08x06) vale a pena passar para os alunos e iniciar uma discussão sobre o assunto

E funciona... usar Kamala Khan em sala de aula, dê uma chance para esta heroína quebrar preconceitos e paradigmas, eles vão gostar muito!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Arquivo extra: Quando uma ideia brilhante pode ser tornar um problema - o caso X-Men

Neste arquivo extra eu irei usar para expressar minhas opiniões sobre os quadrinhos... eu pretendo fazer isso quando estiver afim de criticar coisas que eu gosto, porque eu acho que é bem importante ter suas impressões sobre suas literaturas e seus gostos. Hoje eu deixo aqui um texto sobre X-Men (que por sinal já está na minha lista de como falar dele em história) Espero que gostem!

Devo lembrar a vocês que este é um texto opinativo... Então, não apedrejem esta pobre moça fã do x-men.

X-Men foi meu primeiro contato com os quadrinhos mais adultos, meu pai gostava muito e meus tios tinham um monte de edições no porão da casa da minha vó (e também do homem-aranha, mas eu nunca gostei muito e tenho minhas razões para não gostar). Claro que lia pela aventura e os poderes sensacionais que estes heróis: tinham e amar minha primeira heroína, não gostar tanto de outras, criar um modelo para me espelhar. Como criança nunca pensamos nas mensagens que os quadrinhos realmente querem trazer, mas com o passar do tempo tomamos consciência e descobrir que há muito mais do que imaginamos, e devo dizer que comecei a gostar cada vez mais.
X-men representa as minorias: negros, mulheres, homossexuais, minorias étnicas pelo mundo a fora. Vem com a onda de lutas que as minorias se engajam nos anos de sua vinculação. Os x-men representam a luta para se adaptar a um sistema branco, sexista e preconceituoso. Tem personagens que inclui todos os estereótipos e a premissa envolve uma explicação totalmente aceita pelo público alvo do momento, a mais cientifica possível: a darwinista. As pessoas são excluídas por serem mais evoluídas e manifestarem poderes que pessoas “normais” não podem ter. A genética possibilita os poderes, não é algo que escolheram e a perseguição é uma reação ao diferente, e a verdade é que não reagimos bem... isso nos ameaça e ameaças tem que ser combatidas.

Para mim e para muitos outros, Charles Xavier, ou professor X é o Martim Luther King dos mutantes: seus discursos inflamados são seu recurso contra a opressão, procura mostrar que mesmo diferentes os mutantes devem ser tratados como iguais pelos humanos. Mas mesmo assim prepara seus alunos para o combate caso ele seja necessário. Procura uma reconciliação entre os diferentes, sua causa e seus discursos são mais marcantes que seus poderes ou sua personalidade meio babaca (por mais que você ame Xavier admita que ele é meio babaca sim, igual ao senhor King). Já Magneto representa Malcolm X líder da mão negra, movimento mais radical de libertação dos negros. Magneto não luta pelo entendimento da diferença, ele quer que ela não exista: não quer como Xavier esconder que tem poderes, e sim submeter os inferiores aos mutantes. Violento e determinado a usar suas forças contra a humanidade conquistar o lugar que acredita ser dos mutantes por direito (um idealismo que não iria de forma alguma com o sistema de opressão, apenas criaria um novo, sendo magneto o novo líder dos mutantes – pelo menos é o que posso interpretar sobre esta questão, já que não se concretizou). O antagonismo de ideias é uma das coisas que mais me chama atenção e já gerou diversos arcos interessantes, às vezes lutam juntos esquecendo as diferenças, às vezes lutam entre si. Um dos fenômenos mais interessantes na minha opinião é a amizade entre os dois líderes: magneto e Xavier são amigos com ideais diferentes, lutam entre si, porém se respeitam. Isso deveria acontecer na vida, não é mesmo?

Uma introdução longa para dizer: ideia incrível e brilhante, uma defesa inteligente e bem escrita, mas que não conversa com o resto do universo que a Marvel criou. Não tinha pensado nisso até recentemente, pois sempre vi os x-men de uma forma separada. Pensei nisso quando interrogada do porquê gosto do Capitão América (uma aquisição recente aos meus gostos que ainda em desenvolvimento, por assim dizer) respondi que gosto dos ideais do Capitão do Steve Rogers: o sentinela da liberdade. Sou uma pessoa que defende a liberdade e passei a me identificar muito com o personagem. Inevitavelmente iria me deparar com ele e me interessar em ler sobre ele. Quando se trata dos meus gostos me torno uma implacável defensora deles e quando disseram que ele era contraditório pois defende a liberdade, mas não levantou um dedo ao massacre dos x-men? 

Rapidamente meu cérebro começou a processar a informação e pensar em milhares de formas para defender ambos os meus amados heróis. Basicamente tenho uma nova teoria: x-men não funciona dentro do universo regular da Marvel, deve ficar fora dele, é um caso à parte.
Num mundo os vingadores salvam o dia e conquistam muitos admiradores e que só incomoda o governo (e às vezes ainda) é meio estranho que um grupo tão poderoso quando os X-Men seja exterminado por sentinelas e causem pavor. Num mundo em que se aceita um gigante verde (ou cinza – sim, estou falando do Hulk) com uma raia de descontrolada que “esmaga” tudo o que encontra pela frente se transforme em bonecos para crianças e seja amado é meio incompreensivo não aceitar o pacifico e azul Fera, que diferente do verdão é um cara grande, e controlado e totalmente racional. Ou que aceitamos e confiamos um megalomaníaco excêntrico de armadura voando pelos céus e não aceitamos um telepata centrado de cadeira de rodas que usa seus poderes só quando necessário, ou seja, quase nunca e queremos matar o senhor, pois tem um superpoder que não conhecemos a amplitude.  É difícil pensar nestas coisas sem ter um boom mental, será possível que Steve Rogers e os outros vingadores não se compadeçam pela causa dos jovens mutantes? Que consintam com a genocídio que várias crianças só porque elas têm poderes naturais já que são geneticamente superiores?   Não faz sentido, não é mesmo?

Pois é, não faz mesmo. Os X-Men funcionam muito bem se colocados à parte do mundo heroico da Marvel, sua premissa é fortemente ligada a segregação e não é funcional se colocada lado a lado em um mundo que tolera ou idolatra superpoderes em humanos que dos adquirem depois de nascidos. Que diferença faz nascer com poderes ou adquiri-los mais tarde? Eu confiaria bem mais em alguém que sabe lidar com seus poderes desde cedo do que em alguém que acaba de adquiri-los e que os testá-los por aí sem supervisão, nos x-men todos são treinados em ambientes seguros longe do contado com pessoas que possam se machucar, no caso o instituto Xavier? Nós entenderíamos se estivessem separados, funcionaria em nossa cabeça pensar independentemente. Mas a Marvel não fez isso... não ela decidiu unir e criar um só universo: x-men, vingadores, inumanos e heróis menores como Punhos de Ferro, Demolidor, Luke Cage e o Justiceiro todos juntos. Não é orgânico misturá-los, parece que não se encaixa, deixa pontas soltas, especialmente no envolvimento dos x-men. Não sei vocês, mas para mim parece que é forçar muito a barra querer mantê-los juntos, principalmente sem uma solução criativa para problemas que a mistura acaba gerando, tal como minha amiga acabou levantando quando me questionou.

Gosto muito das soluções criativas da DC (e aqui eu deixo minha opinião que pode estar equivocada para alguns): algo não parece fazer sentido nas narrativas, ou podem contradizer algum conceito pré-estabelecido anteriormente? Basta dizer que se passa em outra terra – os multiversos da DC. Se pode ser censurada, ou a premissa é bem mais adulta e não conversa diretamente com a base que estabeleceu a DC e possa criar um estranhamento no público alvo: criaram paralelamente a Vertigo para abranger estas histórias.

Mas e o Universo Ultimate? Bom, a casa das ideias poderia criar uma solução para o problema, já que o Ultimate modifica e trabalha com menos realismo que o Universo regular (616), mas as únicas mudanças: as mutações são sintéticas e a perseguição continuam tão intensas quanto anteriormente.
Não sei vocês, mas gosto de poder ver filmes da Marvel e X-men no mesmo ano... apesar de X-men ser uma bagunça cronológica, mas eu não me importo com isso: Brian Singer realizou meus sonhos em ver meus heróis no cinema e não tem como odiar! Só esperava ver mais da KItty, mas ainda estou no aguardo por uma ótima representação dela. Não me incomoda não estar na mão da Marvel (apesar da vergonha O Confronto final e os fracos wolverines), pois eles nos poderiam lembrar dos problemas.

Infelizmente para os Homo Superior a vida não tem sido muito fácil na Marvel, a perseguição nunca vai terminar. Que continuem brilhantes e incrível lutando pelas minorias raciais e sociais, que representem e defendam os excluídos e não se preocupem com as incoerências da casa das ideias. Nós te amamos assim deste jeitinho: com os problemas todos... Lutem com bravura que nós torcemos por vocês, eu pelo menos sempre.

Querem deixar sua opinião? Claro que podem! Comentem aí... Até breve com um texto do Arquivo Extra!



  

Superman: o Herói pós crise 1929

ESTE É O SUPERMAN...

Um dos primeiros quadrinhos escritos pela DC Comics, Superman surgiu para nossa alegria em 1938. Carregando consigo o seu S, o homem de aço passou a defender o mundo com seu uniforme azul, sua cueca em cima das calças e sua capa vermelha sempre acompanhado da melhor frase de todas: “é um pássaro, um avião? Não, é o superman”. Vindo de um planeta distante e extinto, enviado por seus pais ainda bebê para nosso planeta, o alienígena preferido por todos (ou quase) foi criado no interior com os amorosos Jonathan e Martha Kent que lhe ensinaram como sobreviver e lidar com seus poderes. O caipirão alienígena Clark Kent/Kal El se muda para uma cidade maior: Metrópolis, se envolve com o canal de notícia local o jornal Daily Planet. Um símbolo de esperança para a humanidade, um salvador. Um resumo breve é necessário para as ideias que cozinham me minha mente, acompanhe comigo:

- o ano de lançamento: 1938 é a saída da Grande Depressão americana. Vamos recordar? Para quem não lembra o ano de 1929 os EUA viu a coisa mais assustadora que poderia acontecer: um país com regime liberal viu a Bolsa de Valores zerar e as pessoas chegarem tarde demais na hora de resgatar seus títulos e consequentemente abrirem completa e total falência, graças a uma falta de visão de mercado. Para quem não sabe ou dormiu na aula de economia (acontece!!!) No regime liberal a economia se auto- regula (cria suas próprias leis que basicamente se resumem a oferta e demanda), sem interferência do Estado (governo). As empresas controlam seus destinos, podem investir em mercados, se arriscar e vender parcelas de suas empresas para investidores que esperam que estes investimentos se multipliquem com os lucros da empresa. Lá (nos EUA) as pessoas fazem suas próprias aposentadorias: elas investem seu dinheiro em empresas e recebem títulos que permitem ter acesso aos lucros proporcionais aos seus investimentos, o governo não tem nada com os planos de aposentadoria, cada pessoa faz o seu. Basicamente a Crush da Bolsa (outro termo para A Crise de 29) afetou todas as camadas da sociedade americana, desde os ricos até os trabalhadores. Existiam estoques e mais estoques de produtos parados por falta de demanda (os EUA produzia em ritmo acelerado desde o fim da segunda guerra) enquanto a Europa já restabelecida criava uma oferta para si mesma. Concorrência e super produção foram os erros que custaram caro aos EUA. As ações das empresas começaram a despencar desenfreadamente e quem chegou primeiro conseguiu resgatou seus títulos e saíram menos prejudicados. Quem chegou depois, bom... o papel tinha mais valor que os seus títulos. E assim começa a Grande Depressão americana: pessoas das mais variadas classes disputavam lugar na fila de sopa que antes eram destinada a pessoas desabrigadas e as filas? Elas dobravam quarteirões. Desemprego por toda parte!
Se em 1938 a economia estava se recuperando novamente, o clima que envolvia os Estados Unidos da América era a Esperança, a única coisa que os americanos poderiam se agarrar. A mensagem estava em todo lugar e não seria diferente para os quadrinhos: Superman foi criado para ser o detentor da esperança, ele luta bravamente pela população, um herói do povo para o povo. E olha só: quais são as cores que estão presentes em seu uniforme? Não repararam que são as cores da bandeira americana com o amarelo significando que alcançarão seu lugar como a nação de ouro? Pois é, Superman simboliza a nação americana que luta e vence, que não perde a esperança. É o herói que retrata a nação, por isso o símbolo de esperança é o que ressalta em seus anos e anos de carreira nos quadrinhos.

- Passados alguns anos da Grande Depressão, Superman não seria só o detentor da esperança como se tornou o salvador do mundo. A imagem de bom moço se ressalta, sua integridade e a personificação do caráter de um bom cidadão americano, quase um Jesus americano era a face que assumiu especialmente no pós segunda guerra. Para quem não conhece os ideais americanos: os responsáveis pelo progresso, os organizadores da conferência pan-americana da “América para os americanos”, os representantes do capitalismo contemporâneo, os cidadãos ideais do mundo, os donos do capitalismo de ouro, os redentores da humanidade... é o que é o Superman se não isso? Salvando não só Metropólis mais o mundo das forças que os ameaçam? Poderia falar aqui sobre seus vilões, mas vou tirar um tempo para falar com mais propriedade em uma outra oportunidade. A Transformação de SUPERMAN vem com um longo período chamado Guerra Fria e os quadrinhos eram um instrumento/canal de influência americana (parabéns EUA, vocês me ganharam ai) e o simpático, carismático e amigo de todos Superman – o ideal americano em sua essência. - entra na jogada como ótima propaganda e sendo consumido pelo mundo.


ÊXODO RURAL:

sim meus amigos, o Clark Kent cresceu em uma fazenda e além de enfrentar os problemas de ser um alienígena ele tem outro obstáculo: ele é um caipira inocente.

A EDUCAÇÃO TRADICIONAL

Sua nave não caiu em uma grande cidade, mas nos arredores de Smallville/Pequenópolis próximo a fazenda da família Kent, uma família tradicional e sem filhos. Pensem neste clima: um alienígena órfão, um casal que quer muitos filhos – é a mistura perfeita para fazer com que SUPERMAN seja quem é. A dificuldade é superada pelo amor que o casal desenvolveu pelo filho adotado e devolvido em forma de um filho amoroso e tradicionalmente correto, no mais cristão da palavra. É fato confirmado que as comunidades de interior tendem a ser mais apego religioso e moral. Clark Kent faz de tudo para honrar os pais e o bom nome que recebeu deles. A moralidade é algo muito evidente na figura do SUPERMAN e vem exatamente pela sua criaçã tradicional e rural que não se corrompe quando ele vira jornalista e trabalha na grande cidade de Metrópolis.
Sua criação foi o fio condutor para os ideias que carrega no símbolo que se tornou o SUPERMAN e que fica mais evidente ao comparar a outros heróis do mesmo porte da DC, como por exemplo o BATMAN: Bruce não teve as figuras paternas ao seu lado e foi criado em uma cidade aonde teve contato direto com a violência de Gotham e isso fez dele um herói amargo, por vezes violento (vide cavaleiro das trevas, por exemplo) e com condutas de moral contestável. Já SUPERMAN poucas vezes perdeu seu temperamento para ficar violento e (como foi a crítica de muitos ao homem de aço,) ele não mata ninguém. Mesmo podendo ser um deus na terra graças a seus poderes SUPERMAN continua vivendo de forma trabalhadora e honesta, é humilde da parte dele isso. Vive para seu trabalho e para salvar os outros. Nunca revelou seu segredo para muita gente, sempre se manteve integro.

A CIDADE DE METRÓPOLIS

A DC nem faz questão de esconder que Clark saiu da pequena cidade para a grande Metrópole e que a vida em Metrópolis era intensa e representada, em grande parte, pela pressa e correria no Daily Planet/ Planeta Diário aonde ironicamente tem em seu quadro de funcionários o SUPERMAN, mas sua presença passa batida porque a pressa é tamanha que nenhum de seus colegas param para reparar em sua real fisionomia e ele se transforma “ no cara de óculos atrapalhado da empresa”. (vai dizer que nunca te incomodou isso na história dele). Na cidade falta tempo para parar e olhar, tudo acontece depressa demais SUPERMAN não precisa se esconder do grande público, só precisou achar para si características que apagassem sua presença e tornassem seu rosto como de um ilustre desconhecido; afinal todo mundo sabe quem é Clark Kent, mas ninguém sabe sua ligação com o SUPERMAN. Os óculos fazem sua fisionomia ser associado a ele, especialmente porque suas armações são grossas e escuras – logo ele é o cara de óculos. Mas ainda se isso não fosse suficiente, ele achou para si mesmo uma característica que apagasse qualquer traço que chamasse atenção a seu físico: ser atrapalhado. Creia-me pessoas atrapalhadas ficam conhecidas por serem atrapalhadas e ninguém repara de verdade em você. Eles vão te evitar ao máximo... Clark Kent é o nerdão atrapalhado que trabalha com parceiro da ilustre Lois Lane, a mulher que chegou ao topo da carreira e isso ofusca ainda mais a imagem dele. Ele é super competente, mas divide as manchetes com Lois e o rosto dela aparece e não o seu – para ele uma vantagem muito grande.

DUALIDADE COM LEX LUTHOR

Sim, os heróis da DC na sua maioria têm uma dualidade evidente com seus vilões. SUPERMAN tem o seu pária oposto na figura de um magnata chamado Lex Luthor, como todo mundo sabe. Tudo nele é uma oposição a Clark Kent. Sua criação em uma família extremamente rica e coorporativa internacional, sua educação em internatos para socialites, sua visão empreendedora, a necessidade de aparecer (a ponto de se candidatar à presidência)
Em todos os aspectos Lex é um filho da cidade grande: a necessidade da fama a todo custo, o medo de ser mais um na multidão, empresário inescrupuloso, o defensor do anarco-capitalismo (capitalismo selvagem), o megalomaníaco excêntrico, o obcecado pela própria imagem. A imagem de Lex é a distorção do que o excesso de poder pode fazer a uma pessoa, os males inevitáveis de ser criado em uma cidade grande e de ter todas as oportunidades infinitas... A crítica maior é a Ambição, tinha de tudo menos o controle sobre um certo Superman. O interessante é ver que Clark conquista as coisas sem ambições apesar de ter o poder para poder fazê-lo, mas não o faz; A visão de Lex é de uma moral contestável já que leva apenas em consideração os próprios interesses o posto do Superman que tem é moralmente correto. Lex é o filho da cidade liberal que se corrompe, Clark é o filho do campo conservador que se mantem. (vou encerrar por aqui, mas a discussão poderia ser muito maior – talvez em uma nova oportunidade 😉 )

Claro que poderíamos discutir muito mais sobre o Superman... Deixe seu comentário sobre novos assuntos que envolva o Homem dde aço! 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

História em quadrinhos: História matéria combina com diversão?

Oi tudo bem? Meu nome é Tamiris e estou aqui com uma proposta diferente. Sou uma amante de quadrinhos e uma apaixonada por história e sempre pensei “Por que não juntar os dois?” e olha eu aqui. Vim dar dicas do que se ler e como se enxergar quadrinhos de uma forma mais histórica. Você deve estar se perguntando: E como pode falar com propriedade disso? (vozinha irritante de quem está sendo chato) Bom, sou oficialmente sou historiadora formada desde 2011 (apesar de ter colado grau em 2013 – para que a pressa, né? Eu queria me formar com os legais da minha turma, então ...) minha área de estudos foi política na iniciação cientifica, cultura, modernidade, psicologia, literatura e guerra (trabalhei com trauma na guerra em romances) na Monografia e atualmente estou fazendo pós graduação em literatura brasileira (usando os estudos de política e cultura que já havia trabalhado anteriormente). Ufa, acho que isso é tudo, pelo menos por enquanto... a gente nunca para de estudar, especialmente quando nos tornamos professores. Uma das coisas que mais estudo atualmente é Guerra Fria, porque sim... eu acho legal.
Dada as minhas credenciais, ou como eu chamo: COMO TORNAR O HOBBY EM TRABALHO PARTE 1, vamos para a parte 2 da bagaça: COMO TORNAR MEU HOBBY EM TRABALHO PARTE 2 – MODO HARD. Eu gosto de quadrinhos e quero que todos gostem também. A parte legal de ser professora é que você está em contato com potenciais consumidores do meus produto que você consome: os adolescentes. Basicamente você tem o poder de trazer os quadrinhos para dentro da sala de aula, MAS você precisa estudar primeiro... tipo, meio que muito bem, porque ali estão todos os potenciais haters também. Os danadinhos querem pegar você no pulo falando besteira! Eu sei, já passei por este julgamento. Bem- vindo ao desafio da vida! Eles não tem nada o que fazer o dia todo e você? Bom, você espera aquela horinha do almoço e coloca a leitura em dia. É a vida, não é mesmo?
Deixando um pouco o desafio de lidar com um público difícil, quero que entendam que todo quadrinho é datado. Eu li uma vez um fã questionando a temporalidade do conteúdo e dizendo: “alguns quadrinhos são atemporais”. Bom, para a história isso é um grande erro: as ansiedades são datadas, o público é datado, as referências são datas, a roupa é datada... basicamente tudo é datado. Não é a toa que se fazem reboots das obras, e as origens são a parte nostálgica da coisa toda, ao se contar a mesma história de uma forma mais atualizada (percebam a palavra nostálgico – é uma referencia a um tempo passado). Então basicamente qualquer quadrinho pode ser fonte sobre um cotidiano, sobre ansiedades de uma geração, sobre vestimentas (aqui eu faço várias ressalvas aos uniformes femininos – pretendo escolher uma outra oportunidade para discutir isso). Eles são representações da época que foi escrita. Seria bacana pegar de cada década e falar sobre isso: talvez em uma outra ocasião.

Esclarecido isso, podemos pegar algumas sagas e estabelecê-las no tempo, ou o que eu acho mais legal: pegar a construção dos heróis e suas primeiras edições e ao localizá-los historicamente TA DÃM! Eles vão fazer todo o sentido do mundo, pelo menos para mim... Vamos ver se eu convenço Você. Vou usar alguns títulos de preferencias minhas, sem me preocupar se é DC ou Marvel – eu leio os dois.

Vou me propor a escrever sobre algumas resenhas e algumas ideias de como trabalhar... Breve no Blog!